minhas idéia

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010




Encontrei seu Cão

Hoje encontrei seu cão.
Não, ele não foi adotado por ninguém.
Aqui por perto, a maioria das pessoas já têm vários cães;
aqueles que não têm nenhum não querem um cão.
Eu sei que você esperava que ele encontrasse um bom lar
quando o deixou aqui, mas ele não encontrou.
Quando o vi pela primeira vez, ele estava bem longe da casa
mais próxima e estava sozinho, com sede,
magro e mancava por causa de um machucado na pata.

Eu queria tanto ser você naquele momento em que parei na frente dele.
Para ver sua cauda abanando e seus olhos brilhando ao pular nos seus braços,
pois ele sabia que você o encontraria, sabia que você não esqueceria dele.
Para ver o perdão em seus olhos pelo sofrimento e pela dor por que ele havia
passado em sua jornada sem fim à sua procura...
Mas eu não era você.
E, apesar das minhas tentativas de convencê-lo a se aproximar,
seus olhos viam um estranho.
Ele não confiava em mim.
Ele não se aproximava.

Ele virou as costas e seguiu seu caminho,
pois tinha certeza de que esse caminho o levaria a você.
Ele não entende que você não está procurando por ele.
Ele só sabe que você não está lá, sabe apenas que precisa te encontrar.
Isso é mais importante do que comida,
água ou o estranho que pode lhe dar essas coisas.

Percebi que seria inútil tentar persuadi-lo ou segui-lo.
Eu nem sei seu nome.
Fui para casa, enchi um balde d'água e uma vasilha de comida e voltei
para o lugar onde o havia encontrado.
Não havia nem sinal dele, mas deixei a água e a comida
debaixo da árvore onde ele havia buscado abrigo do sol e um pouco de descanso.
Veja bem, ele não é um cão selvagem.
Ao domesticá-lo, você tirou dele o instinto de sobrevivência nas ruas.
Ele só sabe que precisa caminhar o dia todo.
Ele não sabe que o sol e o calor podem custar-lhe a vida.
Ele só sabe que precisa encontrá-lo.

Aguardei na esperança de que voltasse para buscar abrigo sob a árvore,
na esperança de que a água e a comida que havia trazido fizessem com que confiasse
em mim e eu pudesse levá-lo para casa, cuidar do machucado da pata,
dar-lhe um canto fresco para se deitar e ajudá-lo a entender que agora você não
faria mais parte de sua vida.

Ele não voltou aquela manhã e, quando a noite caiu,
a água e a comida permaneciam intocadas.
Fiquei preocupada.
Você deve saber que poucas pessoas tentariam ajudar seu cão.
Algumas o enxotariam, outras chamariam a carrocinha,
que lhe daria o destino do qual você achou que o estava salvando
- depois de dias de sofrimento sem água ou comida.

Voltei ao local antes do anoitecer.
Não o encontrei.
Na manhã seguinte, voltei e vi que a água e a comida permaneciam intactas.
Ah, se você estivesse aqui para chamar seu nome!
Sua voz é tão familiar para ele.
Comecei a ir na direção que ele havia tomado ontem,
sem muita esperança de encontrá-lo.
Ele estava tão desesperado para te encontrar,
que seria capaz de caminhar muitos quilômetros em 24 horas.

Algumas horas mais tarde,
a uma boa distância do local onde eu o havia visto pela primeira vez,
finalmente encontrei seu cão.
A sede não o atormentava mais.
Sua fome havia desaparecido e suas dores haviam passado.
O machucado da pata não o incomodava mais.
Agora seu cão está livre de todo esse sofrimento.
Seu cão morreu.

Ajoelhei-me ao lado dele e amaldiçoei você por não estar aqui
ontem para que eu pudesse ver o brilho, por um instante sequer,
naqueles olhos vazios.
Rezei, pedindo que sua jornada o tenha levado
àquele lugar que acho que você esperava que ele encontrasse.
Se você soubesse por quanta coisa ele passou para chegar lá...
E eu sofro, pois sei que, se ele acordasse agora, e se eu fosse você,
seus olhos brilhariam ao reconhecê-lo, ele abanaria sua cauda,
perdoando-o por tê-lo abandonado.

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